Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

a filiação de proudhon [03]

por Daniel Colson*

Um outro exemplo, mais tardio, é o sindicalismo revolucionário que, a partir da França e depois um pouco em todas as partes do mundo, acaba representando o projeto de Proudhon em oposição, mas também em estreita afinidade, com o proudhonianismo extremo e insurrecional dos anarquistas, e com aquele aparentemente tão diferente dos múltiplos e proliferantes movimentos culturais e cooperativos.

Essa capacidade de Proudhon de inspirar realidades tão diferentes quanto os movimentos messiânicos dos operários agrícolas andaluzes, a rigorosa e complexa federação dos relojoeiros do Jura suíço, as ações itinerantes dos Industrial Workers in the World (IWW) americanos, ou os grupos anarquistas do East End judeu de Londres, serviu por um longo período para justificar o veredicto de incoerência e heterogeneidade que geralmente se atribui à sua obra, como também às revoltas e realizações de caráter libertário dos quais ela é a vertente teórica.

Mas é justamente aqui que uma releitura contemporânea de Proudhon e desses movimentos, pode tentar esclarecer sua originalidade e o rigor de sua lógica interna.

“A anarquia, essa estranha unidade que não se diz senão do múltiplo”. Através dessa fórmula, Gilles Deleuze e Félix Guattari descrevem com economia e precisão a originalidade do projeto libertário, e do modo pelo qual Proudhon o pensou, duplicando assim sua diversidade e suas contradições aparentes.

De fato, como Proudhon conseguiu ao mesmo tempo, para nos atermos ao mais conhecido, afirmar-se como reformista e como revolucionário, celebrar e denunciar o trabalho, opor-se ao romantismo insurrecional e tornar-se o apologista do guerreiro, reclamar-se da emancipação e dar provas de uma inverossímil misoginia, sustentar durante o conflito do Sonderbund suíço (1847) os cantões católicos e reacionários contra a maioria radical da Confederação, ou ainda adversário das greves e dos primeiros sindicatos transformar-se no primeiro inspirador do sindicalismo revolucionário?

Graças a trabalhos como os de Pierre Ansart (especialmente Naissance de l´anarchisme [2]), mas também, mais recentemente, o trabalho da jurista Sophie Chambost [3], ou ainda o livro coletivo Lyon et l´esprit proudhonien [4], percebe-se melhor a coerência de um pensamento e de um projeto fundados sobre a anarquia do real e que rompem com o conjunto das representações da modernidade.

Lembremos rapidamente os traços mais marcantes dessa coerência e dessa ruptura.

segue...

* Professor de Sociologia na universidade de Saint-Étienne, membro da livraria libertária La Gryffe de Lyon, autor de Petit lexique philosophique de l’anarchisme.De Proudhon a Deleuze. Paris, ed. Le Livre de Poche, 2001 e Trois essais de philosophie anarchiste, Islam, Histoire et Monadologie. Paris, ed. Léo Scheer, 2004.

** Revista verve, nº. 9: PUC/ São Paulo, págs. 23-29, 2006

notas:

2 - Piere Ansart. Naissance de l’anarchisme. Paris, ed. PUF, 1970.

3 - Sophie Chambost. Proudhon et la norme. Pensée juridique d´un anarchiste. Rennes, ed. Presses universitaires de Rennes, 2004.

4 - Vários autores. Lyon et l´esprit proudhonien. Lyon, Atelier de création libertaires, 2003.

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